Um príncipe,
orgulhoso de sua realeza, foi certo dia caçar em lugar montanhoso e afastado.
(Foto: Ton MarMerl - #marmel +Marmel Ton ) |
A certa altura de
seu caminho, viu um velho eremita, sentado diante de sua gruta, e muito atento
a considerar uma caveira que tinha nas mãos. Indignado por não lhe ter o velho
dado a menor atenção, sequer levantado os olhos para a luzida companhia de
caçadores, o príncipe aproximou-se dele e disse-lhe, entre rude e zombeteiro:
- Levanta-te
quando por ti passar o teu senhor! Que podes ver de tão interessante nessa
pobre caveira, que chegas a te abstrair da passagem de um príncipe de tantos
poderosos fidalgos?
O eremita,
erguendo para ele os olhos mansos, respondeu, em voz singularmente clara e
sonora:
- Perdoa, senhor.
Eu estava procurando descobrir se esta caveira tinha pertencido a um mendigo ou
a um príncipe, mas não consigo distinguir de quem seja. Nestes ossos nada há
que me diga se a carne que os revestiu repousou em travesseiros de plumas ou
nas pedras das estradas. Eu não saberia dizer se deveria levantar-me ou
conservar-me sentado diante daquele que em vida foi o dono deste crânio
anônimo.
O príncipe, cabeça
baixa, prosseguiu o seu caminho, mas a caçada não teve, naquele dia, qualquer
encanto para ele.
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