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Bem vind@ à página de Ton MarMel (anTONio MARtins MELo), Artista Visual que desde infante manifestou talento para pintura, desenho, escultura, frequentou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, recebeu vários prêmios, participou de salões de arte, exposições individuais e coletivas, e também é jurista, Advogado pós-graduado, especialista em Direito Público.

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quinta-feira, agosto 10, 2017

ARTE E CRIANÇA

A arte faz de conta. Crianças, artistas fazem de conta que um rabisco, um objeto, um fragmento, um pensamento se transformam em outra coisa. Desenhar, brincar, poetar. Manchar, riscar, construir, se encantar. Transformar retalhos de tecidos em uma fantasia surreal, rabiscos em dragão alado, pensamentos em formas. Buscar o dizível no invisível. Modos singulares de ver, sentir, expressar e reinventar o mundo.


Laryssa_m (Lary) ensinando Anna a desenhar. (Laryssa Albuquerque Martins é Artista Plástica formada pela UnB em Artes Visuais)


Tanto crianças quanto aqueles adultos que persistem em deslocar a ordem estabelecida do mundo compartilham um pensamento similar, no sentido de que ambos propõem simulacros ou fingem que uma coisa é outra. Artistas e crianças percebem o mundo e dão sentido a ele através de formas singulares. Utilizam seus sentidos de modo mais aguçado do que a maioria dos adultos que deixaram para trás essa capacidade humana de ver, imaginar e simbolizar.

Por muitos motivos e em um determinado período da infância (mais ou menos por volta dos seis ou sete anos), a maioria das pessoas abandona seus infindáveis processos de elaborar enunciados poéticos. Por outros motivos, alguns adultos persistem em suas buscas de alterar os sentidos das coisas, insistindo em transformar o ordinário em extraordinário, o vulgar em diferente. Aqueles que persistem em nos provocar com suas produções, sejam elas as mais tradicionais, como a pintura e o desenho, sejam as performances e as instalações, são denominados, na sociedade ocidental, de artistas. Estes brincam com o cotidiano, com a história, com os mitos e com os nossos pensamentos. Reconstroem significados em torno do visto e do supostamente sabido.

De muitos modos, os artistas, através de suas produções, anteciparam os saberes das ciências, como o Futurismo (1909), por exemplo, que vislumbrou a Lei da Relatividade, de Albert Einstein. Ou expressaram dores e massacres da humanidade, como Guernica (1937), de Picasso, e a instalação 111 (1992), de Nuno Ramos. Ou visualizaram os principais fundamentos de pensadores, como fez Gustav Klimt (1862-1918), ao traduzir” a sensualidade das mulheres na teoria de Sigmund Freud (1856-1939). Enfim, artistae suas produções formulam conhecimentos sobre o mundo, conhecimentos e saberes que podem ser ditos e propagados por meio das linguagens não verbais.

A grande questão que se coloca é: se todos nós estruturamos, nos anos iniciais de nossas vidas, o pensamento simbólico-poético, similar ao dos artistas, então por que a maioria das pessoas desiste de transformar a obviedade do cotidiano? Entendemos que são muitos os fatores sociais, culturais e econômicos que estancam as possibilidades de ressignificar o que está no mundo e singularizar ações, pensamentos e modos de ser.

Em um contexto cultural mais amplo, podemos pensar o quanto as produções culturais imagéticas que circulam nos mais variados meios modulam nossos modos de ser e de pensar. Imagens que produzem pontos de vista sobre o mundo e ao mesmo tempo anestesiam nossos sentidos em relação ao “diferente”, ao estranho, ao inusitado. As imagens disponibilizadas cotidianamente pelos meios de comunicação e pelas corporações de entretenimento acabam se tornando as principais referências para que as crianças elaborem seus imaginários e construam suas imagens, tendo em vista que outros repertórios visuais, como os das artes visuais e de outras produções culturais, não participam frequentemente de suas vidas. Limitar o acesso das crianças a apenas determinado estilo e ponto de vista cultural reflete e diz de uma prática pedagógica, de uma concepção de criança e do que pensam seus educadores sobre arte na Educação Infantil.


Em um contexto mais específico da educação formal, da Educação Infantil ao Ensino Superior, na maioria das vezes, o ensino de arte e também de outras áreas do conhecimento, em lugar de promover ações pedagógicas que levem crianças e adultos ao universo da criação e da estruturação da linguagem visual, acaba tolhendo os modos singulares de os alunos entenderem e expressarem suas leituras e relações com o mundo. Assim, em diferentes contextos socioculturais e nas salas de aula, a sensibilidade e as formas expressivas estão escoando, fugindo de nossas vidas, sem que possamos exercitar nossos processos sensíveis e criativos. Por que isso acontece na Educação Infantil?



(Susana Rangel Vieira da Cunha e Camila Bettim Borges. A arte é para crianças ou das crianças? Problematizando as questões da arte na educação infantil)


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