“Mandai-me Senhores, hoje que em breves rasgos descreva do Amor a ilustre prosápia, e de Cupido as proezas. Dizem que de clara escuma, dizem que do mar nascera, que pegam debaixo d’água as armas que o amor carrega. O arco talvez de pipa, a seta talvez esteira, despido como um maroto, cego como uma toupeira. E isto é o Amor? É um corno. Isto é o Cupido? Má peça. Aconselho que não comprem. Ainda que lhe achem venda. O amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias. Uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um reboliço de ancas, quem diz outra coisa é besta!”
(Gregório de Matos Guerra, O Boca do Inferno. Brasileiro. Bacharel em Direito que chegou a exercer o cargo de Juiz de Direito de Vara Cível, Vara Criminal e Vara de Órfãos e Sucessões durante muitos anos. Na Corte portuguesa, envolveu-se na vida literária que deixava o maneirismo camoniano e atingia o barroco, seguindo as influências espanholas de Gôngora e Quevedo. Poeta satírico que viveu entre 1633 a 1696)
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