Vira
e mexe nos deparamos com cenas de demonstrações de ciúmes. Igualmente, ao me deparar
com o assunto lembro de outras publicações que fiz sobre o tema e sempre aproveito a oportunidade para tecer novas ponderações a respeito.
(Sob a Égide do Amor e da Paixão. Trabalho pertencente a série Nós, Brinquedos, volume 4, produzido através de técnicas diversas pelo artista Ton MarMel) |
Não há como saber quando ela surgiu, mas uma anedota que vem circulando
nos aplicativos de conversas entre celulares consegue dar a medida do quanto as
redes sociais são levadas a sério, hoje, nos relacionamentos amorosos:
Ela: Se você me ama
tanto, prove.
Ele: Como posso provar,
meu amor?
Ela: Mate um leão.
Ele: Meu amor, isso é impossível.
Como eu vou matar um leão?
Ela: Então me deixe ver
as suas mensagens no WhatsApp.
Ele: Qual o tamanho desse
leão?
Exageros à parte, não é de se espantar que o
cabreiro moço da piada tenha adquirido coragem de forma tão repentina. Mas se o
sentimento enciumado dos casais é algo conhecido desde que homens das cavernas tentavam
fazer a raça humana evoluir, a internet permitiu que ele se tornasse ainda mais
rápido, abrangente e, por que não dizer, arriscado. Às escapadas masculinas e
femininas somam-se prints de conversas comprometedoras.
Do simples ato de curtir uma publicação, segue-se a desconfiança do
outro: "Por que ele gostou disso?". São fotos, comentários e postagens
com conteúdos que, antes, poderiam ficar restritos aos amigos no bar, mas que,
agora, chegam aos olhos de todo mundo. Inclusive - e, em muitos casos,
principalmente - da pessoa com quem você divide a cama. A queda de braço é
intensa, até porque, se quase todos sentem ciúme, quase todos fazem parte de
alguma rede social. No Brasil, existem 89 milhões de usuários no Facebook e
outros 45 milhões no WhatsApp.
Entre 2013 e 2014, o Twitter registrou aumento de 25,6% entre os
brasileiros. Hoje, a ciência se debruça sobre a união das redes com a
desconfiança existente entre os enamorados. De acordo com o estudo realizado no
ano passado pelo doutorando da Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri
Russel Clayton, o Twitter pode se tomar motivo para que um relacionamento
chegue ao fim. Ao entrevistar 581 usuários da ferramenta maiores de 18 anos, a
pesquisa apontou que distúrbios existentes em namoros ou casamentos podem ter
correlação com a plataforma. Para quem deseja comprovar isso, basta digitar as
palavras "redes sociais,
ciúme" na caixa de busca do site.
O Facebook também foi alvo do pesquisador. De acordo com a análise de
Clayton, aqueles que usam a plataforma de maneira excessiva estão mais propensos
a experimentar conflitos relacionados à rede social com os parceiros, o que
pode causar danos ao casal, incluindo traição, separação e divórcio. "As redes sociais aparecem na nossa
sociedade como um novo meio de manifestar o ciúme. O ciumento, de maneira
geral, apresenta um medo enorme de ser trocado ou abandonado pelo outro", garante
Graziela Vanelli, psicóloga e autora do livro Amor, ciúme e infidelidade -
Como essas questões afetam sua vida (Editora Letras do Brasil).
Apesar de estarem entre nós há um bom tempo, as ciumeiras provocadas
pelas redes sociais estão longe de perder força: "Esse é um tema que
sempre volta, porém, sob perspectivas diferentes. E, independentemente da
abordagem, sempre gera muita polêmica", garante o publicitário Patrick Simon,
25 anos. Ele e a namorada mantêm juntos o blog Estilo a dois, no qual discutem
com os leitores os mais variados assuntos, inclusive o ciúme.
Ele cita uma postagem como exemplo. No tópico Grupos masculinos no
WhatsApp/Como lidar? - que trata da quantidade de pornografia que circula entre
os celulares dos homens -, há extremos que vão de leitoras recriminando a
prática, checando inclusive o aparelho do namorado para saber o que ele recebe,
àquelas que não consideram isso um problema. "Independentemente disso, é interessante
como o universo digital é capaz de influenciar diretamente o contexto social da
pessoa e do relacionamento", completa.
O ciúme ataca diretamente um dos pontos fundamentais para manter um
namoro ou casamento saudável: a confiança. "O que acontece quando o WhatsApp
fica apitando constantemente? Desconfiança. A insegurança é o que mais
atrapalha a relação saudável e, diante da quantidade de informação que
recebemos hoje em dia, essa sensação tende a crescer", afirma a coach de relacionamentos
Margareth Signorelli, "A gente pode pensar que, antes, o nosso ciúme era
estimulado três vezes em uma semana. Agora, são 30 vezes por dia", pondera.
Em muitos casos, admitir que há um problema é a parte mais complicada,
mas é primordial discutir o assunto para garantir a continuidade do namoro. E é
melhor que isso aconteça desde o princípio. “A conversa deve ocorrer já no
início. Muitas mulheres temem que isso possa ser entendido como cobrança, Porém,
se o homem foge dessa discussão, prova que não é a melhor pessoa para se
relacionar. Ela não quer impor nada, mas apresentar as próprias necessidades."
REGRAS CLARAS DESDE O
INÍCIO
As regras estabelecidas entre os casais para lidar com as redes sociais
não precisam ser estanques - há como se adaptar ao momento que o par está
vivendo. No réveillon do ano passado, o administrador Fábio Ferreira dos Anjos,
33 anos, e a empresária Wivian Ferreira, 39, ficaram em casa, já que a pequena Júlia estava prestes a chegar. Juntos, falaram sobre o quanto a vida mudaria a
partir do nascimento da filha. E a conversa também envolveu as redes sociais.
"Aproveitamos para colocar nas nossas resoluções de ano-novo a diminuição
do uso das redes sociais. Temos ficado longe do celular, até para aproveitarmos
mais o tempo perto da Júlia", garante Fábio. Desde o Orkut, eles se valem
dessas plataformas e têm visões parecidas sobre elas mas as usam de forma
diferente.
"Sou tranquilo em relação ao ciúme nas redes porque isso vai da
forma como o usuário se comporta. Se ele mantém um comportamento austero, faz
com que as outras pessoas o respeitem mais. Nunca fui de expor a minha vida
particular no Facebook", assegura Fábio. Já a esposa foi mais radical. Apesar
de manter o WhatsApp e ser usuária assídua de Instagram, ela deixou o Facebook
por enxergar nele um motor para sentimentos ruins inclusive o ciúme. "Eu
sinto sim. Dependendo das situações, isso pode ocorrer. Mas, no nosso relacionamento,
nunca aconteceu nada que pudesse causar uma briga ou distanciamento. Porém, há
muita gente que sente isso por algo que não existe. Por isso decidi sair",
afirma.
Os dois garantem que homens e mulheres têm comportamentos diferentes quando
iniciam uma relação. Fábio explica que os homens só mudam o status de relacionamento
na rede quando há certeza de que é algo sério. "O que eu percebo, entre os
colegas, é que eles se perguntam se vale a pena alterar o status na rede social,
porque não sabem se aquele relacionamento dará certo. Mas quando é algo
concreto, a situação o deixa mais seguro. Mas se é um "affair que está começando
a pegar corpo, ele fica na dúvida se muda ou não."
Wivian diz que, por terem esse medo de compromisso mais sério, os homens
fazem com que as mulheres tenham de ser mais incisivas. ''A minha primeira
cobrança quando começamos a namorar foi a mudança de status. É como perguntar:
'Eu existo ou não existo na sua vida?' E isso é muito comum entre as mulheres
que conheço. É como se fosse uma aliança de compromisso." Apesar de não
ter um perfil próprio no Facebook, Wivian se mantém conectada por meio da conta
do marido. "Eu saí da rede social por opção. Mas, às vezes, me sinto fora
do planeta por não fazer parte dela Então, uso a conta do Fábio para me
informar e isso também é uma forma de acompanhá-lo, ver quem está seguindo."
Como há um acordo entre o casal, o fato de Wivian usar a rede do companheiro
não é um problema, segundo os psicólogos. Porém, quando a devassa acontece sem
o conhecimento do cônjuge, a questão se torna mais grave. "As redes sociais
mudaram a dinâmica de muitas relações, mas isso não significa que ela seja a
causa da infidelidade. Na verdade, se a pessoa é ciumenta, ela pode potencializar
o sentimento de desconfiança e insegurança", assegura Marleide Mendes Borges,
psicóloga na Clínica Terapêutica Viva - unidade Brasília.
Compartilhar é outro verbo que dá tônica aos relacionamentos, mas isso
nunca deve ser encarado como cerceamento da liberdade - o consenso deve sempre
nortear as discussões. Para Graziela Vanelli, a individualidade precisa ser
respeitada, assim como o respeito aos acordos que o casal fizer. A psicóloga
diz que, se o parceiro for infiel, não há por que invadir as redes sociais para
provar: as atitudes da pessoa no dia a dia vão denunciar esse comportamento.
Segundo a profissional, a infidelidade será demonstrada no olhar; na conversa
com outra pessoa, nos compromissos que marca e não cumpre.
"Mas se for paranoia do ciumento, melhor não invadir nada. O
companheiro fiel também demonstra a fidelidade nos gestos, olhares e respeito.
Resumindo: não devemos devassar a vida alheia. A percepção dos dados de
realidade, que todos podem e devem desenvolver, mostrará o que, de verdade, a
pessoa procura." Mesmo assim, há muita gente que não resiste ao celular do
cônjuge dando sopa. Ou considera uma intervenção divina quando a página do
e-mail fica aberta. Contudo, o que antes soava como destino pode assumir
contornos de doença.
De acordo com Marleide Mendes Borges, o ciúme patológico começa a dar
sinais quando causa sofrimento psíquico e distorce a realidade. Segundo a
profissional, é normal que muitos homens e mulheres interajam entre si, principalmente
na internet Mas, quando existe a desconfiança exacerbada por parte de um dos
parceiros sem fundamentação, quando uma das partes começa a dar mais atenção ao
perfil do outro do que ao seu próprio, fica horas buscando indícios infundados
ou dispõe de muito tempo para investigar a vida e as contas de amigos do
parceiro sem motivo, se acende um alerta.
"Se existe tanta desconfiança a ponto de tentar burlar as leis e
descobrir a senha do parceiro a qualquer custo, é hora de repensar os conceitos
de relação e buscar entender o que está acontecendo entre o casal", avisa
Marleide. Alguém com comportamento obsessivo usará as redes sem receios. Para a
psicóloga Marisa de Abreu, as plataformas não criam essas atitudes, mas são
espaços para que as obsessões sejam expressadas.
"A obsessão trará problema quando o limite do outro em suportar comportamentos
invasivos chegar ao limite. A ajuda psicológica se faz necessária quando o
obsessivo passar a identificar prejuízos em sua vida ou quando a parte que esta
sendo perseguida não souber mais como fazer para manter o relacionamento."
Mesmo que travestidos em bytes, o ciúme é antigo e capaz de fazer com que um
namoro nem mesmo tenha tempo de se desenvolver. Particularmente, este articulista,
jurista e artista que vos escreve, asseguro que poucas vezes esse sentimento interferiu decisivamente em meus relacionamentos. Mas, ao contrário, eles sempre foram referência do que não
é ideal.
E digo mais: "As redes sociais devem ser levadas a sério na medida
em que alguém leva algo a sério no mundo real: Alguém que é ciumento em demasia
fora da internet irá manifestar insegurança também por meio das redes, por
serem um espaço que facilita e imediatiza a criação de novos contatos, a
descoberta de afinidades entre pessoas".
"É a clássica situação de alguém entrar no teu perfil da rede
social e ver as conversas. Não havia nada ali para ela descobrir, apenas situações
que, por insegurança, ela poderia encarar como indícios daquilo que temia na
imaginação. Considerei que esse gesto de invadir minha privacidade era sinal de
alguém emocionalmente insegura e capaz de tudo, um indicativo de que o namoro
não tinha um bom futuro."
Para mim, apesar de um relacionamento unir duas pessoas em um projeto
comum, elas continuam sendo indivíduos e precisam ter uma esfera própria e
autônoma fora da relação; é a clássica situação na qual 2 pessoas formam um único
corpo e interesses somados. "Escolhemos todos os dias ficar ao lado daquela pessoa e é
importante lembrar dessa escolha para que o comprometimento seja constante e
consciente. Por isso, a manutenção da esfera de privacidade de cada um é
fundamental, pois é a forma de assegurar que a relação é uma escolha, e não
algo que absorveu completamente a individualidade e privou a pessoa de
autonomia."
Entendo, ainda, que, ao se colocarem como extensões da vida real, as
redes sociais refletem as mudanças de comportamento. "Quando estamos
solteiros, muito do que publicamos na internet está direcionado a criar oportunidades
de novos contatos e flertes: apresentamos a nossa imagem pessoal nas redes
sociais de modo que seja ela seja atraente, convidativa. Isso muda, assim como
muda fora da internet, quando estamos namorando." Em alguns casos, a
exposição pode sair do controle e cada casal vai ter de aprender a lidar com
isso.
Há poucos dias, Rodrigo Zanotta, desenvolvedor web, e Luana Iahnke, fotógrafa,
ambos de 24 anos, ficaram famosos no Brasil inteiro. Eles se conheceram por
meio do aplicativo de relacionamentos Tinder há 10 meses e, para celebrar o
amor, tatuaram o símbolo da plataforma no pulso. Apesar da atitude considerada
radical, os dois têm visões bem centradas quanto à ligação das redes sociais
com o namoro. "Eu e o Rodrigo temos um a senha do outro, mas é mais por
praticidade do que por desconfiança. Como sou fotógrafa e boa parte dos meus
contatos são feitos pelo Facebook, em alguns casos, já pedi para ele entrar no
meu perfil e enviar alguma coisa que não consegui pelo celular, por exemplo.
Ambos temos a liberdade de entrar no perfil do companheiro, mas, por opção,
evitamos fazer isso", garante Luana.
Rodrigo não nega que as redes possam ser um vetor de atritos nas
relações - "curtidas e pedidos de amizade podem sim acabar criando um
certo ciúme" -, mas, para ele, o casal é o principal responsável para que
essas impressões não sejam transformadas em conflitos. "Quando nenhum dos
dois der motivo para o ciúme ir mais longe, o sentimento pode ser facilmente
controlado e até ignorado." Apesar da repercussão do episódio da tatuagem,
ele não teme continuar a mostrar o quão está feliz com Luana.
"Postamos momentos do casal como saídas, eventos com amigos
presentes, coisas que marquem nosso dia e achamos legal compartilhar. O que é
de nossa intimidade diz respeito apenas a nós, e nada vai para as redes
sociais", garante o jovem. Ainda que exista cuidado, Luana acredita que há
muita gente disposta a criar rusgas em um relacionamento simplesmente pelo
prazer de cutucar. "Sempre tem um ou outro que gosta de alfinetar. Isso,
infelizmente, sempre vai existir. Tem gente que se incomoda com a felicidade
alheia. Nós não deixamos de postar e cantar nosso amor: somos felizes,
apaixonados e gostamos que as pessoas vejam e entendam que é possível ter uma
relação sadia como a nossa", resume.
O sentimento de inveja que muitos casais percebem emanar dos solteiros é
reflexo de uma sociedade ainda incapaz de ver a solitude como uma escolha.
Frederico Mattos, psicólogo e consultor de relacionamento do Par-Perfeito, afirma
que existe uma pressão silenciosa para os solteiros firmarem um compromisso
amoroso. "Parece haver uma correlação enganosa entre 'estabilidade e vida
de casal' e 'instabilidade e vida de solteiro'. No entanto, há pessoas
solteiras estáveis e casais instáveis. Mesmo assim, segue essa rivalidade
imatura de que estar num relacionamento é inevitavelmente sinal de
bem-estar."
Para a psicóloga Graziela Vanelli, é preciso entender a época em que
vivemos e, principalmente, as liberdades que ela dá aos casais. Somente dessa
forma, as redes sociais serão menos um problema e mais uma forma de aproximar
os casais. "Chego à conclusão de que o ser humano é tão negativo que,
mesmo evoluindo, não sabe viver. Na época da vovó, não existia o celular, as
relações eram físicas, porém, não havia tanta liberdade entre os casais quanto
se tem hoje. Liberdade de falar, olhar, tocar, fazer. Hoje, que desfrutamos dessa
liberdade, segurança e assertividade, preferimos ficar no teclado."
Quem sabe aproveitar essas mudanças pode colher frutos que vão bem além
de uma curtida. O cineasta Acácio Campos Filho, 60 anos, e a comissária de
bordo Mônica Branco Campos' 45, namoraram na juventude por três anos. Quando ela
teve de se mudar para São Paulo, a relação acabou, mas o interesse não. "Ele
me procurou depois disso, mas ficamos 15 anos sem notícias um do outro. Até ele
me achar no Facebook, em 2010", lembra Mônica.
"Eu disse: 'Quando você pousar em Brasília um dia, me liga que a
gente sai para conversar.' E aconteceu isso. Acho que, se não fosse pela rede
social, não estaria com ela hoje", conta Acácio. E o que realmente
aconteceu? "Nós nos reencontramos, nos reapaixonamos e nos casamos",
resume a comissária. A história de amor que começou antes mesmo das redes
sociais teve seu desfecho por meio delas. Entretanto, apesar de entenderem que
devem algo a Mark Zuckerberg, a plataforma não é capaz de trazer incômodo para
os dois.
"Eu considero o Facebook uma ótima ferramenta, mas o uso de acordo
com os meus valores. Só publico detalhes corriqueiros do nosso dia a dia,
mensagens positivas. A nossa relação com a rede é muito aberta e limpa. Ele tem
minha senha e eu tenho a dele, e isso não causa nenhum tipo de transtorno
porque usamos de acordo com o que acreditamos", explica Mônica. Acácio diz
não ver problema algum em casais que, por exemplo, postam fotos de viagens a dois.
Mas é contra quem transforma o mural do Facebook em muro de lamentações particular.
E, para ele, isso pode trazer problemas a um relacionamento.
"Entre nós, não existe cobrança, desconfiança nem insegurança. Temos
os nossos grupos no WhatsApp e ela não sabe quem está nos meus, não sei quem está
nos dela e isso não importa. Temos uma relação de total confiança", explica
o cineasta, lembrando um detalhe importante: as redes sociais não distanciam o
casal. "Ainda busco os valores antigos, aprendidos com pai e mãe, na qual
essa privacidade tem de ser minha e dele, não preciso expô-la para o mundo.
Isso é da nossa essência. Eu respeito a privacidade dele e ele compartilha do
mesmo comportamento comigo", afirma Mônica.
Desde que a Emenda Constitucional n° 66/2010 entrou em vigor, conseguir
o divórcio é algo que depende apenas da vontade de um dos cônjuges, sem a
necessidade da comprovação da separação de fato ou, ainda, da separação
judicial. 'Antes, a culpa era um elemento determinante para que a separação
judicial pudesse ser proposta sem a necessidade de comprovação da ruptura da
vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição".
Mesmo assim, as redes sociais são usadas como forma de fundamentar o pedido de
divórcio, principalmente nos casos em que há necessidade de garantir a segurança
do patrimônio construído pelo casal.
Nesse sentido, se a pessoa quer usar o conteúdo das redes sociais como
prova, deve fazer cópia utilizando o próprio perfil. "É preciso levar a
imagem até um cartório para que seja atestado que é fidedigna" Entretanto,
caso seja comprovado que houve invasão da privacidade do acusado, as coisas podem
se inverter e o traidor(a) passa a ser a vítima
Por outro lado, mesmo não fazendo diferença na hora do pedido, muitos
divórcios têm nas redes sociais uma razão a mais para acontecer. "O fato
de a pessoa ter traído o companheiro não influencia na decretação do divórcio.
Nesses casos, as redes sociais serão um adendo que podem justificar o abalo
moral ou a exposição sofrida. Vai ser mais importante o que o cônjuge sentiu ao
ser traído do que a traição em si. As provas serão usadas para fundamentar o
pedido de uma indenização."
Por último, creio ser útil lembrar que é crime
acessar o celular, o computador, laptop, etecétera do(a) companheiro(a) valendo-se
de métodos ilícitos que permitam burlar a senha. Mas ressalto, que para a
configuração do delito há a necessidade de que o aparelho só possa ser acessado
mediante senha e que essa senha não tenha sido fornecida ou que o invasor do
aparelho tenha se valido de algum meio fraudulento para acessar o celular do
companheiro(a).
TRÊS
PERGUNTAS
Adentrando um pouco mais o tema, fizeram
algumas perguntas a Miguel Roberto Jorge, professor associado de Departamento
de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina/ Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp):
1 – HÁ ALGUM MOMENTO NO RELACIONAMENTO EM QUE
SEJA JUSTIFICÁVEL A DEVASSA NAS RESDES SOCIAIS DO CÔNJUGE? Não. A invasão da
vida privada de alguém nunca é justificável. Entretanto, é característico nas
redes sociais a exposição pública de informações que, em outros tempos, eram
consideradas privadas. Assim, na medida em que um indivíduo expõe detalhes da
vida pessoal em rede social, o acesso de qualquer pessoa dos seus relacionamentos
ou mesma estranha a eles, não mais se caracterizará como invasão e poderá
trazer consequências.
2 – O SEXO PODE SER AFETADO PELO CIÚME? POR
QUÊ? Qualquer emoção ou sentimento mais intenso pode afetar a libido. Entretanto,
há indivíduos que se excitam com a ideia de que o parceira esteja se
relacionando sexualmente com outra pessoa.
3 – PARA A PSIQUIATRIA, O CIÚME PODE GERAR
TRANSTORNO? DE QUE TIPO? Fazem parte da história da psiquiatria os quadro antes
chamados de ciúme patológico. Eram observados em parte dos indivíduos com
dependência do álcool (alcoolismo) ou com transtornos da personalidade (indivíduos
exageradamente desconfiados ou mesmo paranoides). No Manual diagnóstico e estatístico
dos transtornos mentais, publicado em 2013 pela American Psychiatric
Association, há um quadro denominado ciúme obsessivo, descrito entre os
transtornos relacionados ao transtorno obsessivo compulsivo e caracterizado
como uma preocupação não delirante com a infidelidade percebida do parceiro.
(Inspirado em artigo de Rafael Campos
publicado na Revista do Correio, pertencente ao jornal Correio Brazilense, de
domingo, 8 de fevereiro de 2015, ano 10, número 508).
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