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Bem vind@ à página de Ton MarMel (anTONio MARtins MELo), Artista Visual que desde infante manifestou talento para pintura, desenho, escultura, frequentou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, recebeu vários prêmios, participou de salões de arte, exposições individuais e coletivas, e também é jurista, Advogado pós-graduado, especialista em Direito Público.

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sexta-feira, junho 24, 2016

ARTE E OLHOS: INTENÇÃO E VISÃO – TEXTO E CONTEXTO

O TRABALHO DE ALGUNS ARTISTAS REVELA COMO PATOLOGIAS NEURAIS E PROBLEMAS NOS OLHOS PODEM INFLUENCIAR A FORMA DE EXPRESSÃSO E MODO VER.
 
Diferenças e Semelhanças. Ton MarMel
Particularmente, eu sempre usei óculos desde a infância e apesar de não gostar nem um pouco desse objeto que para muitos é adereço indispensável de charme e para outros objeto necessário (dependendo da situação, ocasião e meio), o fato é que sempre usei óculos desde a infância e sempre trabalhei também com artes devido a problemas oftálmicos de astigmatismo e hipermetropia e tais defeitos físicos jamais influenciaram minha maneira de expressão e pensamento artístico na medida em que a arte visual é meio e não um fim para a expressão artística e jamais meus trabalhos foram apenas figurativistas.

Assim, não é verdade que toda criação artística é ilusória! Prova disso são as obras tácteis, como esculturas, e as que se realizam através da intervenção e adquirem sua existência plena com a participação e envolvimento direto do público expectador.

Assim, aos que afirmam que toda criação artística é ilusória lembra-se que só podem ser consideradas assim as obras estritamente visuais e em alguns aspectos. se considerarmos  que envolve o afastamento da realidade e a filtragem feita pela mente do criador, ou seja, apenas pinturas e desenhos.

E sendo assim, é fato que a subjetividade não se aplica apenas a obras abstratas, mas também à arte representativa, figurativa, em que aquele que cria traduz suas percepções em um objeto físico capaz de induzir uma concepção semelhante no espectador.

Em geral, pintores figurativistas (dentre eles os retratistas, paisagistas, etc.) reproduzem o mundo tridimensional sobre uma superfície plana. Essas representações são suficientes para suspender a incredulidade do sistema visual e desencadear uma enxurrada neural que permite ver banhistas, pontes e margaridas. Não se trata da realidade. Mas de como o artista enxerga e quer retratá-la. Sua concepção é uma mistura de expectativas, memórias, suposições, imaginação e intenções. É também, de certa forma, um reflexo de atalhos neurais e processos visuais básicos.

A cena se torna ainda mais complexa quando os pintores sofrem de patologias visuais ou neurais que interferem na maneira como enxergam as coisas ao redor, às vezes bastante diferente da “experiência padrão” (normal?!). As obras produzidas por esses artistas nos permitem compreender como percebem (ou não) o mundo, seja de modo intencional ou acidental, ou simples questão de estilo ou mesmo modismo momentâneo.

O enfraquecimento da visão, por exemplo, pode se traduzir em uma perda da precisão e dos detalhes nas pinturas. As imagens da artista americana Georgia O'Keeffe se tornaram mais planas e menos complexas depois que ela desenvolveu degeneração macular bilateral relacionada à idade, uma doença da retina que afeta a visão central de alta resolução. De forma semelhante, trabalhos da pintora americana Mary Cassat mostram uma incomum falta de delicadeza nos traços depois que desenvolveu catarata. O impressionista francês Claude Monet também tinha essa patologia nos olhos, o que deixou suas pinturas imprecisas e com cores apagadas. Depois que enfrentou uma cirurgia bem sucedida as obras recuperaram a definição e a vivacidade.

Como demonstram os exemplos a seguir, podemos detectar os efeitos de doenças da visão ou do cérebro em muitos artistas.




BAILARINAS DE EDGAR DEGAS

O artista francês viveu de 1834 a 1917 e experimentou a perda visual progressiva nos últimos 30 anos de sua vida. Em 2006, o oftalmologista Michael F. Marmor usou informações retiradas das correspondências do pintor e simulações de sua percepção feitas com computador para tentar traçar um diagnóstico e entender melhor como ele teria experimentado o mundo.

Marmor concluiu que em Degas a visão central, por meio da qual temos maior acuidade e nitidez das imagens, diminuiu em seus últimos anos de vida. Muitos aspectos de sua arte, até então bastante vigorosa - como o sombreamento, a cor e a composição global-, em grande parte se perderam. Depois que esse aspecto ocular enfraqueceu, as obras ficaram mais grosseiras e com menos requinte. No entanto, é provável que o próprio Degas não tenha notado nenhuma diferença fundamental entre suas produções anteriores e as pinturas de anos mais tarde, como essa representação de bailarinas de seus últimos anos. Ele teria sido igualmente incapaz de focar a visão central nas primeiras obras. Marmor suspeita que as produções posteriores parecessem mais suaves e naturais aos olhos do pintor (filtradas pela patologia visual) do que aos dos espectadores sadios.



IMAGENS TERRÍVEIS

As obras do pintor britânico do século 20 são notórias pela perturbação e causam nos espectadores. O artista, uma vez descrito por Margaret Thatcher como "o homem que pinta imagens terríveis” inovou na maneira de proporcionar um "choque visual" no público. Os neurocientistas Semir Zeki e Tomohiro Ishizu, Universidade College London, argumentam que as faces alteradas e os corpos desfigurados de Bacon  - muitas vezes reminiscências de violência e mutilação- provocam aflição em muitos observadores por causa da maneira como subvertem os modelos neurais da forma humana. Várias partes do cérebro, como a região fusiforme facial e as áreas do corpo extraestriado e fusiforme, são especializadas no reconhecimento das feições e do físico. Segundo Zeki e Ishizu as pinturas do artista são apenas "suficientemente coerentes" com a figura humana real que essas estruturas cerebrais reconhecem. O que impressiona o espectador são os detalhes dos retratos de Bacon: são tão distorcidos que chegam a romper as expectativas do cérebro em relação ao corpo. Por isso, o efeito costuma criar sensação de desconforto em quem vê as obras.

O neuroftalmologista Avinoam B. Safran e seus colegas da Universidade de Genebra acreditam que o pintor sofria de uma doença neurológica rara chamada dismorfopsia, que conduz progressivamente a percepções inconstantes e distorcidas. Em alguns pacientes, as deformações e modificações ilusórias a principalmente a percepção de rostos e corpos. De fato, Bacon descrevia faces que sempre mudavam, em e que a boca e a cabeça estavam em constante movimento. Segundo Safran, os efeitos das deformações perceptivas do pintor sobre sua arte não são exclusivos: desenhos feitos por um paciente com dismorfopsia, causada por um tumor denominado meningioma, também apresentam concepções alteradas a respeito de pessoas, e é notável a semelhança com os retratos de Bacon.




EL GRECO TINHA ASTIGMATISMO?

Suas pinturas do século 16 e do 17 são povoadas pelas famosas figuras alongadas. As formas curiosas renderam especulações de que o pintor pudesse ter sofrido de astigmatismo, uma falha óptica. Acreditava-se que as lentes de óculos que usava pudessem ter favorecido o problema, produzindo imagens na retina esticadas horizontalmente, o que teria levado o mestre a pintar figuras altas e magras que pareceriam comuns para ele.

Para testar a hipótese, o neurocientista Stuart Anstis, da Universidade da Califórnia em San Diego, alterou a capacidade de visão de voluntários sadios para que enxergassem de maneira similar a EI Greco. Para isso, usaram um telescópio específico que estendeu horizontalmente em 30% as imagens da retina. Curiosamente, o cientista observou o efeito "EI Greco" nos desenhos feitos a partir da recordação, mas não quando eram copiados: por mais que os voluntários tentassem desenhar de memória um quadrado, acabavam produzindo um retângulo comprido e afilado; mas, ao tentar copiar uma figura real, desenhavam uma réplica bastante semelhante.

Então, para simular o astigmatismo ao longo da vida, Anstis pediu a uma participante do experimento que usasse o telescópio que provocava distorção por dois dias seguidos. Ela desenhou de cabeça e copiou os quadrados quatro vezes a cada 24 horas. Quando podia visualizar o modelo, reproduzia de maneira praticamente idêntica, que não acontecia quando evocava a forma da memória: nesse caso, a qualidade era aproximadamente 50% inferior. No entanto, a participante se aprimorou progressivamente. Até o fim do segundo dia já conseguia reproduzir a figura com grande similaridade. Anstis concluiu que, mesmo que sofresse de astigmatismo, EI Greco teria rapidamente se adaptado a essa condição.

Então, por que EI Greco pintava figuras tão estranhas? Evidências artísticas oferecem uma explicação diferente. Estudiosos afirmam que ele produzia esboços com proporções comuns e somente depois; na hora de pintar, alongava as imagens. E fazia isso de forma seletiva, retratando, por exemplo, os anjos mais altos e esbeltos do que os humanos. O fato de que nem sempre empregava o estilo alongado sugere que o método era uma escolha estética.



OS OLHOS TORTOS DE REMBRANDT

Abra e feche rapidamente os olhos, um de cada vez, e você vai notar que o esquerdo e o direito têm perspectivas ligeiramente diferentes. Neurônios no córtex visual usam o deslocamento horizontal entre esses dois órgãos para produzir uma visão estereoscópica, um dos principais recursos para enxergarmos profundidade. Nossas retinas são fundamentalmente estruturas bidimensionais, por isso a percepção da terceira dimensão é uma ilusão, uma construção cerebral.

Em 2004, os neurocientistas Bevil R. Conway e Margaret S. Livingstone, então da Escola Médica de Harvard, mostraram que os olhos do pintor holandês do século 17 Rembrandt van Rijn estavam, muitas vezes, desalinhados nos autorretratos, de modo que um deles parecia encarar diretamente o observador, enquanto o outro olhava para o lado. Margaret e Conway se perguntavam se Rembrandt teria pintado a si mesmo com impressionante precisão: nesse caso, talvez fosse estrábico divergente. Eles analisaram aspectos do olhar do pintor em 36 autorretratos e descobriram que, se essas obras fossem fiéis à sua vida, Rembrandt, na verdade, teria tido algum problema na visão estéreo, ou seja, era incapaz de usar o deslocamento horizontal entre os olhos para ver em 3D. Basicamente, trata-se de uma dificuldade para enxergar profundidade com pistas estereoscópicas. Isso pode ter sido vantajoso para ele, já que é rotina entre estudantes de arte fechar um dos olhos para replicar o mundo tridimensional em uma superfície plana com maior precisão. A cegueira estéreo pode ajudar os artistas a transformar o mundo em duas dimensões.

Os resultados preliminares sugerem que estudantes de arte têm menor capacidade de visão estéreo do que os de outras áreas e que os olhos de artistas consagrados apresentam desalinhamento mais pronunciado em relação à população em geral. Essa peculiaridade pode não tornar ninguém um grande mestre (muitos artistas, aliás, têm a visão sadia, enquanto a maioria das pessoas com cegueira estéreo não exibem nenhum talento especial). Mas os primeiros esboços de indivíduos com essa característica podem ser mais precisos do que o de alunos com a visão comum, e essa característica pode ajudar a encorajá-los a perseverar na formação artística.



AUTORRETRATOS DE UMA MENTE EM RUÍNAS

O artista americano William Utermohlen foi diagnosticado com Alzheimer em 1995, quando tinha 61 anos. Nos cinco anos seguintes, à medida que a demência piorava, ele usava a arte para acompanhar a desintegração de sua mente. Os autorretratos de Utermohlen, como os esboços posteriores a 1996, oferecem uma janela para a experiência do artista em relação à progressão da própria doença. É provável que diversas mudanças estilísticas nas representações seja m resultado do rápido declínio das habilidades visuoespaciais e o motoras de Utermohlen ao longo de pouco tempo. Os retratos são angustiantes: expõem uma mente que tenta, corajosamente, compreender a si mesma, apesar da deterioração.

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO

A neurological disorder presumably underlies painter Francis Bacon distorted world depiction. Avinoam B. Safran e outros, em Frontien in Human Neuroscience, vaI. 8, artigo n9 581, 29 de agosto de 2014.

Ophthalmology and art: simulation ofMonet's cataracts and Degas' retinal disease. Michael F. Marmor, emJAMA Ophthalmology, vaI. 124, n9 12, págs. 1764 1769, dezembro de 2006.

Was Rembrandt stereoblind? Margaret S. Livingstone e outros, em New England Joumalof Medicine, vaI. 351,n° 12, págs. 1264-1265, 16 de setembro de 2004.

Some workmen can blame their tools: artistic change in an individual with Alzheimer's disease. Sebastian J. Crutch e outros, em Lancet, vol, 357, págs. 2129- 2133,30 de junho de 2001.

(Inspirado no artigo Percepções Distorcidas de Susana Martinez-Conde e Stephen L. Macknik, publicado na revista Scientific American, Mente Cérebro, nº 266, 2015).





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