Soneto Ora direis ouvir estrelas de Olavo Bilac: análise do poema
Ora direis ouvir estrelas na íntegra
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
(Antonio Martins Melo - Marmel. Martmel)
Análise
Ora (direis)
ouvir estrelas pertence
a coleção de sonetos Via Láctea que, por sua vez, está inserido no livro
de estreia do escritor brasileiro Olavo Bilac. O soneto é o número XIII de Via
Láctea e ficou consagrado como a parte mais famosa da antologia intitulada Poesias,
publicada em 1888. Os versos de Bilac são um típico exemplar da lírica
parnasiana.
Ora (direis)
ouvir estrelas é o
soneto número XIII da coletânea de sonetos Via Láctea.
No livro Poesias,
Via Láctea se encontra entre Panóplias e Sarças de fogo.
Diz-se que o
tema do amor, mote inspirador dos versos de Bilac, foi fruto da paixão que o
poeta teve pela poetisa Amélia de Oliveira (1868-1945), irmã de Alberto de
Oliveira (1857-1937).
Os versos
apaixonados transparecem o afeto de um recém apaixonado que dialoga com as
estrelas. Quem o ouve acusa o eu-lírico de devaneio:
Ora (direis)
ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!”
O eu-lírico não
liga para a acusação e ainda sublinha a sua necessidade de conversar com as
estrelas deixando, inclusive, as janelas abertas para melhor ouvi-las. A
conversa com os astros é longa, se estende noite adentro:
A tristeza
aparece quando nasce o sol e torna-se impossível vê-las. O apaixonado então
recolhe-se a sua tristeza e agonia a espera que a noite caia novamente.
A meio do poema
são inseridas aspas para indicar a presença do interlocutor, que o acusa
novamente de se desconectar da realidade para conversar com as estrelas. O
eu-lírico então devolve uma resposta cabal:
Ao mesmo tempo
que fala de um sentimento particular - o encantamento provocado pela amada, o
sentimento de enamoramento - o poema é construído de modo universal, de forma a
alcançar os ouvidos de qualquer pessoa que já tenha se sentido em tal estado.
Trata-se, por
isso, de versos eternos, que não perdem a validade, porque retratam sentimentos
tipicamente humanos e genuínos, independentes de qualquer tempo e lugar.
A amada aludida
nos versos de Ora (direis) ouvir estrelas não é nomeada, nem sequer
conhecemos qualquer característica física sua.
O amor cantado
pelo poeta recebe heranças da contenção neoclássica, uma oposição ao
sentimentalismo derramado romântico de outrora.
Em termos
formais, Bilac como representante típico do Parnasianismo segue um rigor formal
e estilístico. A rima, por sua vez, está presente em Via Láctea.
Quem foi
Olavo Bilac
Olavo Braz
Martins dos Guimarães Bilac conhecido nas rodas literárias apenas como Olavo
Bilac, nasceu no dia 16 de dezembro de 1865, no Rio de Janeiro, e faleceu na
mesma cidade em 28 de dezembro de 1918, aos 53 anos.
Em 1881, entrou
para o curso de Medicina influenciado pelo pai, que fora médico e serviu o
Exército durante a Guerra no Paraguai. No entanto, Bilac acabou por desistir do
curso no quarto ano de faculdade e passou a investir o seu tempo trabalhando
com literatura e jornalismo.
Em 1883, cinco
anos antes do lançamento do livro Poesias, Olavo Bilac publicava os seus
primeiros poemas no jornal dos estudantes da Faculdade de Medicina no Rio de
Janeiro. No ano a seguir, seu soneto Neto foi publicado no
jornal Gazeta de Notícias.
Daí em diante,
Bilac conseguiu emplacar diversos versos em periódicos regionais e nacionais.
Em 1885, o
poeta começou a namorar com Amélia, que foi uma inspiração para os seus versos
de amor. O rapaz também teve bastante sucesso na vida artística, durante as
duas primeiras décadas do século XX, os seus sonetos foram bastante declamados
nos saraus e salões literários.
A obra poética
de Bilac enquadra-se no Parnasianismo, porém o autor fez questão de que os seus
versos fossem híbridos e mesclassem a tradição francesa com um toque lusitano.
Olavo
Bilac foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) e criou a
cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias.
Uma
curiosidade: o poeta foi autor da letra do Hino à Bandeira.
----------------------------------------------------------
Poesia
declamada
Leia Via
Láctea na íntegra
Os versos de Via
Láctea estão disponíveis para download gratuito em formato PDF.
_______________________________________
Fonte
Rebeca Fuks.
Doutora em Estudos da
Cultura. Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa
(2018).
https://www.culturagenial.com/ora-direis-ouvir-estrelas-de-olavo-bilac/
______________________________________
#marmel
#martmel #antoniomartinsmelo #olavobilac #olavobrazmartinsdosguimarãesbilac
#oradireisouvirestrelas #vialactea #soneto13 #sonetoxiii #panoplias #sarcasdefogo
#ameliadeoliveira #albertodeoliveira #poesia #poetica #parnasiano
#parnasianismo #literatura #rebecafuks #qualosentidodavida #qualobjetivodavida
#sobrevivencia #perpetuacao #perpetuacaodaespecie #abl
#academiabrasileiradeletras #hinoabandeira #cadeira15 #goncalvesdias
Nenhum comentário:
Postar um comentário