O Cine Brasília - DF exibiu no mês de maio de
2015 os filmes UMA NOITE, filme de ficção científica ambientada em Havana,
INSPIRADO EM CASO REAL, e o documentário titulado CUBA LIBRE, de Evaldo
Mocarzel, ambos enfocando controversos aspectos da vida na ilha de Fidel
disponível também em locadoras.
Normalmente romantizada pelas esquerdas e centro-esquerdas que
consideram o país um símbolo da resistência comunista em pleno Século 21, tais
filme e documentário podem oferecer uma visão mais real do que acontece naquela
ilha quando o assunto é a maneira como a ELITE REVOLUCIONÁRIA de Fidel Castro e
seus seguidores lidam com as LIBERDADES INDIVIDUAIS, com os INTELECTUAIS e
ARTISTAS DISSIDENTES, com as MINORIAS (especialmente HOMOSSEXUAIS).
No filme Uma Noite, da norte-americana Lucy Mulloy, e Cuba Libre,
do brasileiro Evaldo Mocarzel, tem-se duas perspectivas normalmente
negligenciadas, mas ABSOLUTAMENTE CONTUNDENTES DA ILHA, pois enquanto o
documentário do brasileiro Mocarzel aborda a atriz transexual Phedra D. Córdoba,
o filme de Mulloy retrata o drama de três jovens que sonham migrar para Miami.
Desse modo, a homossexualidade também está presente no filme de Mulloy. Apadrinhada de Spike Lee, a jovem diretora colecionou prêmios em Berlim (melhor filme da mostra Generation), em Atenas e no Festival de Cinema Independente de Tribeca, em Nova York. A obra centra toda a ação nos irmãos Elio (Javier Núnes Florian) e Lila (Anailín de La Rua de la Torre) e na complexa relação com o amigo Raúl (Dariel Arrechaga). Apesar do desejo, notadamente de Raúl, de fugir para Miarni, onde diz querer encontrar o pai, Uma noite vai muito além dessa circunstância específica. O quadro pintado por Mulloy de Cuba é sombrio e deve revirar o estômago dos simpatizantes da causa cubana. Prostituição, drogas, apartheid entre a população local e os turistas, mercado negro, tudo faz parte da paleta da diretora. O envolvimento de Mulloy com seu filme é profundo. Ela mesma operou a câmara e compôs várias das músicas da trilha sonora.
Dizem que a arte imita a vida e vice versa. Pois muito bem: ao ser contemplada no Festival de Tribeca com os prêmios de melhor ator, para Javier Núfies Florian, de melhor fotografia e de melhor diretora jovem, Mulloy se deu conta de que nem o ganhador, nem sua irmã na ficção, haviam subido ao palco. Eles haviam desaparecido no caminho para o evento. Javier e Anailín tinham se aproveitado da conjuntura de entrar em solo norte-americano para fugir. Eles foram em busca de uma vida' melhor em Miami! Mulloy depois se declarou orgulhosa pelo fato de seu filme ter realizado o sonho do casal de atores protagonistas. Muito da ideia do filme veio deles. Quando começou a escrever o roteiro, ainda nos Estados Unidos, ela pensava em situar a ação do filme apenas na travessia do mar. Foram as conversas com os atores e as contradições que testemunhou, quando pisou em solo cubano, que a fizeram mudar o curso da história.
Muitas das contradições apresentadas em Uma noite são imanentes a distorções do pensamento revolucionário (como a ideologia militar varonil), mas, do mesmo modo, foram aprofundadas pelo isolamento econômico e político cubanos a partir do colapso da União Soviética. A "distensão" promovida pelo presidente Raúl Castro não deixa de ser uma clara manifestação de que se havia chegado num limite e que algo necessariamente deveria ser feito para tirar o país do impasse em que se encontrava. Levando tudo isso em consideração, seria um contrassenso dizer que essa abertura seria o "fim de Cuba". De que Cuba se estaria falando, afinal? Certamente não seria a Cuba de Mulloy. A abertura de Raúl Castro estaria condenando o país a retroceder ao ·tempo de Fulgêncio Batista, quando a ilha - com seus cassinos, drogas e prostitutas - havia se transformado num quintal recreativo para a classe média, muito embora, como diz o velho provérbio português, só o tempo é o senhor da verdade e da razão.
Então, por
essas e outras tantas razões, vale conferir ambos, filme UMA NOITE e
documentário, CUBA LIBRE, para se sair da ingênua adolescência intelectual
política para um amadurecimento, embora tardio, porém mais que necessário.
Filme: UMA NOITE, de Lucy Mulloy
Documentário: CUBA LIBRE, de
Evaldo Mocarzel
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