Pesquisa canadense mostra que desenho preserva e melhora a
memória.
A fim de evitar que alguma tarefa seja esquecida, a maioria
das pessoas tem o hábito de anotá-la. Mas a chance de se lembrar de algo
importante pode ser muito maior caso se faça um desenho.
Pesquisadores canadenses realizaram análises cognitivas com
adultos jovens e idosos e concluíram que ilustrar é um método extremamente
eficiente para ajudar a reter novas informações, principalmente para pessoas
com idade avançada.
As descobertas foram publicadas na revista Experimental
Aging and Research e podem ajudar em tratamentos para problemas de memória,
como o Alzheimer.
Em estudos anteriores, a equipe havia detectado que o
desenho é uma estratégia de codificação de informações altamente eficaz para
adultos jovens, proporcionando maiores benefícios de memória do que outras
técnicas de estudo.
Na nova fase, os investigadores resolveram analisar se o
mesmo resultado poderia ser observado em idosos. “Estávamos especificamente
interessados em determinar o quão benéfico poderia ser a prática do desenho
para reter informações na população de adultos mais velhos, já que essa faixa
etária experimenta declínios significativos no funcionamento da memória”, informa
Melissa Meade, uma das autoras do estudo e pesquisadora em neurociência
cognitiva na Universidade de Waterloo.
No experimento, os pesquisadores compararam diferentes tipos
de técnicas para auxiliar na retenção de um conjunto de palavras. Foram
analisados 30 voluntários, divididos em dois grupos conforme a faixa etária:
estudantes de graduação e idosos.
Os participantes podiam desempenhar tarefas diferentes para
memorizar cada palavra: escrita, desenho ou uma listagem de atributos físicos
relacionados ao item.
Depois da realização da atividade, a memória dos
participantes foi avaliada. Os integrantes de ambos os grupos mostraram melhor
retenção quando recorreram ao desenho, sendo que o desempenho foi ainda maior
entre os idosos. “Descobrimos que o desenho otimizou a memória de adultos mais
velhos mais do que todas as outras técnicas testadas e que são mais
conhecidas”, ressalta Meade. “O desenho melhora a memória em uma variedade de
tarefas e populações, e a simplicidade da estratégia significa que ela pode ser
usada em muitos ambientes”, completa Myra Fernandes, também autora do estudo e
pesquisadora da universidade canadense.
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Zonas preservadas da memória
A retenção de novas informações normalmente diminui à medida
que as pessoas envelhecem devido à deterioração das estruturas cerebrais
envolvidas na memória, como o hipocampo
e os lobos frontais. Mas
as regiões de processamento visual espacial do cérebro — envolvidas na representação
de imagens — ficam praticamente intactas durante o envelhecimento normal e
a demência. “Achamos que o desenho é particularmente relevante para
as pessoas com demência porque ele faz um uso melhor das regiões do cérebro que
ainda estão preservadas”, frisa Meade.
Leonardo Oliva, geriatra e presidente da Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia no estado da Bahia, também acredita que
o uso dessas áreas preservadas no cérebro é a justificativa para os melhores
resultados obtidos no experimento canadense. “Quando desenhamos, usamos a
parte relacionada à visão espacial, uma parte do cérebro que é mantida em pleno
funcionamento mesmo durante o envelhecimento. Esse é um conceito que
já conhecemos. Quando outros elementos estão envolvidos, como o cheiro, o tato,
a emoção, ficam mais vívidos na nossa memória”, explica.
Os autores do trabalho canadense dão
continuidade à pesquisa investigando a eficácia do desenho no auxílio para
indivíduos com demência que experimentam declínios rápidos na memória e no funcionamento
da linguagem. “Também estamos investigando as
regiões específicas do cérebro envolvidas na memória usando ressonância
magnética funcional em adultos jovens saudáveis. Esperamos encontrar regiões envolvidas no processamento de informações
visuais perceptuais, motoras e semânticas que sejam mais ativas quando um
indivíduo se lembra de palavras que foram estudadas por desenho, comparando com
a técnica da escrita”, complementa Meade.
A pesquisadora aposta que os resultados do trabalho poderão
ser usados na área terapêutica. “Acreditamos que nossas descobertas têm
implicações empolgantes para ajudar pacientes com demência a manter memórias
episódicas valiosas durante a progressão da doença”, explica.
Para o médico brasileiro, se mais resultados positivos forem
obtidos, o desenho poderá se tornar
uma alternativa a ser explorada em tratamentos de preservação da memória.
“É um estudo ainda muito pequeno, que chamamos na área de estudo original. Ele abre as portas para outras pesquisas.
Mas, ainda assim, é algo que pode se
unir a outras técnicas que já são usadas para impedir que a memória se
deteriore, como a música e a dança”, afirma Leonardo Oliva.
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Correio Braziliense.
Caderno Ciência e Saúde. Vilhena Soares. 09.1.2019.
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